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Acir Fernandes Meirelles
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Direção Regional da Educação
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ProSucesso – Açores pela educação - Plano
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03-06-2015
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METAS
Fico feliz em encontrar um programa assente em metas. A existência de metas é fundamental, não só porque permitem avaliar o projeto, mas igualmente devido ao seu papel enquanto elemento mobilizador da comunidade educativa. Perceber onde se quer chegar é já metade do caminho.
Considero as metas estabelecidas bem selecionadas e de fácil leitura.
Proponho que as mesmas sejam amplamente divulgadas, não apenas no interior das escolas, mas junto de toda a população açoriana, numa forte campanha de conscientização/mobilização para o desafio colocado. Numa segunda fase é importante a monitorização anual do progresso, por escola, concelho, ilha e região. Todos temos que poder medir, refletir, cobrar e comemorar os resultados alcançados. Este tipo de apreciação é muito melhor do que o famigerado ranking que resulta dos exames nacionais.
1 – Foco na qualidade das aprendizagens dos alunos
- Diversificação da oferta formativa de caráter (atenção, no texto está grafado carácter) profissional e profissionalizante.
É importante, na implementação desta medida, fazer um balanço sobre a oferta profissional que as escolas do ensino regular podem desenvolver com qualidade e o que deve ser deixado a cargo das escolas profissionais. É o caso, por exemplo, dos cursos que requerem equipamentos muito especializado, como Carpintaria, Cozinha ou Mecânica. De outra forma poderemos vir a ter uma concorrência desnecessária entre estas duas instituições e, no limite, situações de sobreposição pouco saudáveis. Como a nossa rede não é muito grande, não será difícil, por ilha, especializar as escolas em determinadas áreas.
Ainda no campo desta diversificação deveríamos explorar a hipóteses não de cursos a serem desenvolvidos por escolas do ensino regular ou profissional, mas antes por ambas as escolas em parceria. Assim, por exemplo, um curso de mecânica poderia ter a sua componente sociocultural desenvolvida por uma escola do ensino regular e a parte tecnológica por uma profissional. Aproveitávamos, desta forma, os melhores recursos de cada uma e poderíamos, mais facilmente, aumentar a oferta deste tipo de ensino.
Independentemente da oferta, é essencial um reforço da orientação dada aos jovens que concluem o 9.º ano sobre as opções para o secundário. Estou convencido de que boa parte da taxa de insucesso do secundário poderia ser resolvida por esta via. Como encarregado de educação a experiência que tive foi a da escola Antero de Quental, onde os pais tiveram reuniões de informação e a minha filha, a exemplo dos seus colegas, foi orientada pela psicóloga da escola. O processo, no entanto, é pouco individualizado e está longe de esgotar todas as alternativas. Não houve, por exemplo, sessões de divulgação da oferta das escolas profissionais, ou mesmo a visita a uma escola profissional.
- Permeabilidade entre percursos de nível secundário.
O texto fala em “percursos alternativos para a conclusão do ensino secundário”. Fica a ideia de que existe um percurso normal e outros alternativos. Sugiro simplesmente percursos diversificados para a conclusão do ensino secundário, englobando a totalidade das possibilidades.
Esta permeabilidade é essencial, pois de outra forma é sempre um iniciar do zero. A implementar, será ótimo.
Projetos específicos
- Programa “apoio mais – retenção zero”
Vou relatar a minha vivência enquanto encarregado de educação de uma jovem que se encontra no 11.º ano (Artes), na Escola Secundária Antero de Quental.
Este ano a minha filha teve dificuldades em duas disciplinas: Geometria e Matemática B. Reuni-me com a Diretora de Turma (uma profissional muito dedicada, diga-se de passagem) e, após expor o problema, a sugestão foi que nós procurássemos apoio externo (eufemismo para explicação). Quando referi que eu e a minha mulher éramos contra as explicações a professora encarou o facto com espanto, referindo que quase toda a turma estava com aulas particulares.
De seguida perguntei sobre as aulas de apoio e fiquei a saber que:
a) Geometria e Matemática tinham apoios no mesmo dia e hora;
b) As horas de apoio, para além de sobrepostas, decorriam na hora do almoço.
Sugeri, como alternativa, que os dois professores disponibilizassem para a minha filha fichas de exercícios ou indicassem livros. O docente de Geometria forneceu o solicitado e deu a devida orientação. A professora de Matemática indicou um livro e nunca perguntou se a minha filha estava a resolver ou não os seus exercícios.
Nenhum dos professores alguma vez sugeriu à minha filha que comparecesse às aulas de apoio.
O Professor de Geometria, face ao fraco desempenho de alguns alunos, estabeleceu algumas estratégias, como a do aluno/tutor, e reforçou as pequenas fichas de avaliação. Da professora de Matemática não tenho conhecimento de esforço semelhante.
Entretanto, aproximam-se os exames, esta semana os alunos do 11.º ano entram de férias e eu ainda não recebi, da parte da Escola, nenhuma informação sobre se serão disponibilizadas aos alunos aulas de preparação para os mesmos.
Esta pequena experiência individual permite-me concluir que a questão do apoio pode ser, em grande parte, implementada com a alteração de pequenos hábitos. Assim, sugiro:
- Que os professores sejam expressamente proibidos de aconselhar “apoio externo” para os alunos. Ao contrário, nas escolas deveriam existir cartazes a dizer: SE TEM DIFICULDADES NO ESTUDO NÃO PROCURE UM EXPLICADOR, PROCURE-NOS. A indústria das explicações é bem o sinal dos nossos problemas e tem que acabar. A explicação está tão enraizada que suspeito que os próprios docentes, ainda que de forma inconsciente, já a aceita como um dado adquirido e descarregam sobre ela um esforço que deveria ser seu.
- Não devem existir aulas de apoio sobrepostas.
- Não devem existir aulas de apoio à hora do almoço.
- Nas interrupções letivas não há porque não ter a escola aberta para apoiar os alunos.
- Os alunos que irão fazer exame devem, após o fim do ano, ter um programa próprio de preparação, divulgado no início do ano letivo.
- As escolas, na(s) semana(s) que antecede(m) as interrupções letivas, estabelecem um calendário de reuniões de conselho de turma, por forma a que estas estejam concluídas antes do encerramento das aulas. Conclusão, a última semana de aulas antes do fim de cada período é muito pouco produtiva, já que os docentes estão em avaliações. É um luxo ao qual não nos podemos permitir.
2 – Promoção do desenvolvimento profissional dos docentes
Aqui, sejamos sinceros, existe uma realidade estrutural que o Prosucesso não pode corrigir. É relativamente fácil aceder à carreira docente, pois, ainda que a efetivação seja um processo de anos, o assumir do estatuto de professor é algo, no mínimo, pouco exigente. Aliada a esta realidade de entrada, temos uma carreira onde o docente torna-se quase que um intocável, com processos de avaliação muito aquém do desejável. Ou seja, todos nós conhecemos ótimos professores, todos nós conhecemos péssimos professores, a carreira docente não os distingue minimamente.
Como não o podemos fazer pela negativa, seria muito bom se pudéssemos, ao menos, louvar publicamente os exemplos de excelência.
PROGRAMAS ESPECÍFICOS
Não fica claro, com o Prosucesso, o que se deseja enquanto sistema de formação, muito embora as observações e análises do documento enquadrados forneçam algumas análises. A existência do Oportunidades, por exemplo, é consequência das falhas do nosso sistema. Não deveria e não deve existir, é, literalmente, um beco sem saída. Vai acabar? Teremos mais cursos profissionais? Teremos mais PROFIJ? Para quando os CET? Eu gostaria de ver o ensino recorrente substituído pelo Reativar, mas não encontro lugar, neste projeto, para discutir e defender este ponto de vista.
Em sumo, queremos sucesso no interior de que sistema de ensino?
ADULTOS
São o grande ausente deste plano, todo ele desenhado para as crianças e os jovens em idade escolar.
Proponho um Prosucesso especial para eles, até porque pagam impostos e têm o mesmo direito de acesso à Educação dos mais novos.
DAS ESTATÍSTICAS DO DOCUMENTO ENQUADRADOR
Em se tratando de estatísticas há sempre duas formas de ver uma dada realidade: como fotografia ou como filme. Ou seja, num dado recorte momentâneo ou num ciclo temporal. No caso das estatísticas sobre a educação nos Açores, a região não se sai bem em nenhuma das hipóteses.
Na fotografia os Açores, integrados num país situado nas posições mais baixas em termos de indicadores educacionais, consegue disputar com a Madeira a última posição em, literalmente, todos os critérios, com a honrosa exceção do ensino profissional.
No filme, a primeira vista, até nos saímos bem, já que não existem indicadores que não tenham evoluído positivamente. O problema é a velocidade dessa evolução, ou seja, somos um filme em câmara lenta. Assim, chegamos ao século XXI com quase 80% da população ativa com não mais do que o 3.º ciclo e um número significativo, mais não exatamente quantificado, de analfabetos. Nesse momento, numa população tão pequeno como a nossa e com uma cobertura escolar invejável, o nosso analfabetismo já deveria ser de 0% (é absurdo exigir menos do que isso) e a nossa tarefa principal tornar abrangente o ensino secundário e não o 3.º ciclo.
Se pensarmos que não existe região do país com um parque escolar tão bom quanto o nosso, que temos um corpo docente estável e altamente profissionalizado, que a proporção entre alunos e professores é baixa, que não temos escolas sobrelotadas, que praticamente não temos escolas com desdobramentos de horários, que todos os concelhos possuem oferta do ensino secundário, que as verbas canalizadas para a educação garantem que a nenhuma escola falte o essencial para o seu funcionamento, temos que convir que os resultados são, no mínimo, modestos.
Mais, independentemente do que mostram os números, é de louvar a disposição de publicá-los e enfrentá-los.
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